Arnaldo Jardim
Por Arnaldo Jardim e Marco Vinholi
O Prêmio Nobel de Economia de 2025 premiou três estudiosos que reafirmam uma verdade fundamental: a inovação é o principal motor do crescimento econômico. Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt mostraram que o avanço tecnológico é o que transforma a produtividade, as empresas e o bem-estar das sociedades. Mais que um reconhecimento acadêmico, o Nobel deste ano é um recado ao mundo: no século XXI, inovar é o novo verbo do desenvolvimento.
Vivemos uma mudança de paradigma. A inteligência artificial, a biotecnologia e a digitalização redesenham indústrias, profissões e governos. Não basta acumular capital e trabalho; é preciso reinventar a forma de produzir, pensar e competir. A inovação é o elo entre conhecimento e prosperidade.
Joel Mokyr lembra que a inovação não nasce do nada. Ela depende de sociedades abertas, que valorizam o saber, toleram o erro e premiam a curiosidade. Países que sufocam a criatividade, desvalorizam a ciência ou punem o risco jamais serão inovadores. O progresso técnico é tanto cultural quanto econômico e exige instituições que incentivem a liberdade de pensar e criar.
A história recente comprova isso. A Coreia do Sul apostou na educação técnica e científica e criou uma geração de engenheiros e empreendedores que transformaram um país agrícola em uma potência tecnológica global. A Índia, com sua massa de engenheiros e programadores, consolidou-se como polo mundial de tecnologia e startups.
Os países escandinavos, outro exemplo, construíram ecossistemas de inovação baseados em confiança social, colaboração e sustentabilidade. Modelo em que governo, empresas e universidades atuam de forma integrada, na lógica da hélice tripla em que o conhecimento acadêmico, a política pública e o investimento privado se retroalimentam.
O Brasil, por sua vez, tem oportunidades únicas. Somos uma potência bioenergética e ambiental, com vastos recursos naturais, matriz elétrica limpa e o maior patrimônio de biodiversidade do planeta. Iniciativas como o RenovaBio, os programas do Sebrae de transição verde para micro e pequenas empresas, o avanço do etanol de segunda geração e os projetos de hidrogênio verde mostram que há caminhos promissores. Mas falta um movimento estratégico e coordenado que conecte ciência, mercado e sustentabilidade, transformando nossas vantagens naturais em vantagens tecnológicas. É preciso inovar na forma como usamos nossos recursos, agregando valor com pesquisa, biotecnologia e digitalização das cadeias produtivas.
Esses exemplos mostram que inovação não é acaso — é estratégia nacional. O crescimento dos países inovadores nasce da convergência entre educação de qualidade, ambiente regulatório estável e incentivos à pesquisa e ao empreendedorismo. Essa lição vale especialmente para o Brasil. Ainda somos uma economia excessivamente dependente de setores tradicionais, que pouco convertem ciência em produto e tecnologia em valor.
Por aqui, faltam incentivos à pesquisa, segurança regulatória e uma cultura que estimule a experimentação e o risco, bem como programas de transição verde para micro e pequenas empresas, como os implementados pelo SEBRAE. O Nobel de 2025 deveria servir como espelho: as nações que investem em inovação crescem; as que hesitam, estagnam.
Governar, neste novo tempo, é também criar condições para o novo. É investir em educação, apoiar startups, digitalizar serviços, aproximar universidades e empresas. É compreender que inovar não é um luxo de economias ricas – é o caminho para que uma nação se torne rica.
O futuro não será construído por quem tem mais recursos, mas por quem tem mais ideias. Inovar, hoje, é mais do que competir, é sobreviver, inspirar e transformar.
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