Deputado Arnaldo Jardim

A agricultura avança, mas poderia ir além - 2014

Arnaldo Jardim

Se as condições climáticas não nos surpreenderem o Brasil vai colher, em 2014, cerca de 200 milhões de toneladas de grãos. Uma supersafra para consolidar a tendência de ganhos de produtividade do agronegócio brasileiro. Nos últimos dez anos, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção explodiu enquanto a área de cultivo agrícola se manteve estável. O Brasil é líder mundial de produtividade agrícola e o produtor brasileiro supera de longe nesse quesito o produtor norte-americano, por exemplo.

Costuma se dizer que o País é um continente, além de ser muito bem servido de sol e água. Tem o maior estoque de terras disponíveis para a agricultura no mundo e nossas lavouras podem ser expandidas sem ameaçar qualquer área de vegetação nativa. Mas a maior parte do solo brasileiro tem baixa fertilidade, é ácido e as culturas prosperam enfrentando pragas, insetos e ervas daninhas. O sucesso do agronegócio nacional tem sido construído com doses maciças de inovação: pesquisa, novas variedades de sementes, novas máquinas e informatização de todas as fazes dos negócios..

Até os 1970 éramos importadores de alimentos. Nos últimos 40 anos, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 68% do crescimento da produção agrícola se relacionou à aplicação de novas tecnologias, 9% ao aumento da área de plantio e 2% à mão de obra.

Para continuar competitivo, bancando parte importante das exportações nacionais com as commodities do campo, o produtor brasileiro é desafiado todo ano a reduzir seus custos. Boa parte desse sucesso tem base na criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, em 1973, cujos estudos promoveram a espetacular ocupação do cerrado, onde se concentram hoje 70% da produção nacional de grãos.

É isso que fez a Organização das Nações Unidas (ONU), há mais de dez anos, prever que em 2109 a produção agrícola brasileira avançará 40%, em relação a 2007.  O Brasil já tem hoje um lugar de destaque geopolítico na segurança alimentar do Planeta. E já pode projetar um futuro mais promissor na produção de proteína animal valedo-se inclusive das possibilidades que lhe conferem a produção vegetal.

É impressionante que todos esses fatos – e a evolução deles ao longo dos anos, pedras cantadas aqui e no exterior – não levaram o governo até hoje a estabelecer uma política agrícola abrangente e consistente para o País. Não a política dos soluços, que anuncia medidas com conta-gotas em cada susto, cada protesto ou na iminência de colapsos, como tem sido no congestionamento das estradas e dos portos em época de exportações.

Mas uma política clara, com linhas de comando objetivas, que abrigue sob um conjunto de metas inteligíveis as questões de logística, crédito, seguros, pesquisas, comércio exterior, tecnologia. De resto, assuntos que precisam de soluções em vários outros setores da vida brasileira.

Espera-se nesta safra alguma melhoria da logística – a maior dor de cabeça do agronegócio brasileiro – depois de algumas ações que custaram a ser implementadas. O arranjo de novos caminhos de saída da produção para o norte do País, com a pavimentação da BR-163 – que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA) –, a maior utilização de portos fluviais e ferrovias, além de uma agenda de descarregamento no centro-sul deve propiciar alívio para as filas de caminhões nas imediações dos portos nas estradas de acesso.

Para as próximas, se o governo mantiver o financiamento pelo Banco do Brasil da construção de armazéns a juros de 3,5% ao ano e acertar os ponteiros operacionais do programa, os produtores poderão melhorar ainda mais seus resultados, estocando e regulando suas vendas dentro da porteira: o déficit de armazenagem é um dos maiores responsáveis pelo custo do frete de produtos agrícolas no Brasil. Por enquanto, o programa de R$ 5 bilhões anunciado no ano passado, depois que a Imprensa mostrou ao mundo as montanhas de milho produzidas na safra e armazenadas ao ar livre, teve apenas cerca de 3% dos recursos tomados.

Um instrumento que precisa ser aperfeiçoado e mais largamente utilizado é o Seguro – Agrícola; sua implementação vem no sentido da estabilidade e prevê sustentabilidade que são fundamentais ao setor.

Há também uma nova esperança no horizonte, com a sanção, em dezembro do ano passado, do projeto de criação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) que poderá dar novo alento aos 4,3 milhões de produtores familiares, responsáveis por 84% das propriedades agrícolas brasileiras. A agência, com orçamento de R$ 1,3 bilhão para 2014, vai ocupar o importante espaço abandonado com a extinção da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), no governo Collor, em 1990. A Embrapa considera, há muito tempo, que os produtores familiares, com assistência, tecnologia, crédito e apoio institucional, podem ser a outra opção fundamental para alimentar os brasileiros e livrá-los de uma das piores faces da inflação.

 

Arnaldo Jardim
Deputado Federal PPS/SP.

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