Deputado Arnaldo Jardim

A água e o futuro - 2015

Arnaldo Jardim

Chegamos ao Dia Mundial da Água, em 22 de março, com muitas apreensões e uma ponta de esperança que se vislumbra a parir das reflexões geradas pela grave crise hídrica vivida pelo País, particularmente no estado de São Paulo e na região Sudeste. A pior crise em 80 anos, com alarmantes indicadores de escassez. Além de comprometer o abastecimento humano, afeta diretamente a geração de energia elétrica, aflige a indústria e sacrifica a atividade agrícola.

Não deveria ser assim, mas muitas vezes a humanidade só se move após as catástrofes e os infortúnios. Um estudo das Nações Unidas divulgado em 2000 previa que 2,7 bilhões de seres humanos ficariam sem água no ano 2025. À época a situação já era crítica para um bilhão de indivíduos. As profecias de que as reservas de água entrariam em colapso em algum momento parecem agora muito próximas da realidade.

Mas a água não vai acabar. Só está ficando cada vez mais suja pelas atividades humanas e escassa justamente onde há maior demanda. A Terra tem 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos de água. A parte doce é 2,5% desse total: 68,7% estão nos polos, em forma de gelo, e 29,9% em lençóis subterrâneos. Os rios e lagos, de onde a humanidade recolhe a maior parte da água para consumo, só concentram 0,26% do total disponível do líquido.

No Brasil, onde estão 12% da água superficial de todo o Planeta, prevaleceu a cultura do desperdício, apesar de não usarmos nem um por cento do nosso potencial de água doce. O problema é o gerenciamento. Temos rios degradados, índices de perda assustadores nas companhias de distribuição e um desperdício inconcebível por parte da população. E o crescimento desordenado das cidades – fruto da falta de planejamento e gestão – ajuda a piorar. Sem planejamento não há proteção de nascentes nem dos reservatórios naturais. E isso sai caro para as ações de saneamento e para a sociedade porque depois será preciso despoluir a água ou trazê-la de outro lugar.

A água está no centro do desenvolvimento sustentável – tema do seu dia mundial deste ano. Os recursos hídricos, assim como a variedade de serviços que prestam, suportam a redução da pobreza, o crescimento econômico e a sustentabilidade ambiental. Da segurança alimentar e energética à saúde ambiental, a água contribui para melhoria do bem-estar social e crescimento inclusivo afetando a subsistência de bilhões de pessoas.

A crise recente tem motivado esforços e determinação para o uso adequado, o armazenamento, o tratamento, a distribuição, a conservação e a reciclagem da água. Esses movimentos precisam ser também acompanhados por governantes, pesquisadores e empresas para que se dê novo sentido à utilização da água no desenvolvimento da sociedade.

Agora, por exemplo, como secretário de agricultura e abastecimento paulista e sob a orientação do governador Geraldo Alckmin estabelecemos quatro diretrizes para responder às questões de consumo e demanda de água. A prioridade na busca de cultivares e espécies vegetais que melhor suportem o stress hídrico; um programa permanente com os municípios para recuperação de nascentes d’agua; a realização do Programa de Regularização Ambiental (PRA), para a recomposição de matas ciliares e áreas de preservação permanente (APPs); e as ações integradas com fabricantes de equipamentos de irrigação para a pesquisa e desenvolvimento em busca de maior eficiência no uso da água.

Nesse sentido, já neste 22 de março, o governo de São Paulo lançará um abrangente Programa de Recomposição de Matas Ciliares que apresentará resultados importantes para a conservação de nossos recursos paulistas.

Devo também advertir que uma de cada duas pessoas no planeta vivem hoje numa cidade. E as cidades crescem a um ritmo excepcional: 93% da urbanização ocorrem em países pobres ou em desenvolvimento, e quase 40% da expansão urbana do mundo se dá em favelas. Mais de 2,5 bilhões de pessoas vão se deslocar para os centros urbanos em 2050. Gerenciar áreas urbanas tornou-se um dos desafios de desenvolvimento mais importantes do século 21. O futuro estará escrito no sucesso ou fracasso da construção de cidades sustentáveis.

No Brasil, esses números indicam a necessidade de um esforço conjunto, articulado e descentralizado da União, Estados e Municípios para o planejamento, preservação e conservação dos recursos hídricos. Pelo meu comprometimento com a questão da água no Brasil, tenho a honra de integrar o Comitê Dirigente de Auxílio Parlamentar à Iniciativa da Água do Fórum Mundial da Água (World Water Council), como representante das Américas. Fundado em 1997, o fórum é uma organização não governamental e sem fins lucrativos que reúne cientistas, políticos, ativistas e ambientalistas que lutam para a preservação da água, com mais de 20 mil participantes em 150 países.

Domingo próximo será dia de celebrar a água. Um dia de preparação da força e do espírito para a forma de gerir a água no futuro começando já, no presente. 

19/03/2015

Arnaldo Jardim é deputado federal licenciado (PPS-SP) e secretario de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

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