Deputado Arnaldo Jardim

A Involução Industrial - 2010

Arnaldo Jardim

A queda do superávit da balança comercial é um sintoma de que algo não vai bem na economia nacional, podendo colocar em risco o legado de estabilidade deixado pelo Plano Real e pior, comprometer o setor industrial. Resultado desta equação perversa: desemprego, aumento da dependência do capital estrangeiro, comprometimento dos investimentos prioritários, surtos inflacionários, alta variação cambial, só para citar alguns. Trata-se de um suicídio anunciado, pois uma vez estabelecido o processo de desindustrialização, este não pode ser facilmente revertido.

Digo isso analisando o ritmo de expansão do PIB, desde 2007, que traz evidências de que este processo já começou, tais como: menor participação no PIB (Produto Interno Bruto), baixa inovação tecnológica, mau desempenho nas exportações (muito abaixo dos outros países emergentes) e perda do mercado interno para produtos importados.

Alguns, mais afoitos, podem argumentar que o incremento das importações pode contribuir para conter surtos inflacionários resultantes do aumento da demanda interna, além de estimular a concorrência e a produtividade nacional.

Entretanto, é bom lembrarmos que o nosso setor industrial não compete em pé de igualdade com as empresas estrangeiras, diante da alta carga tributária (34,7% do PIB), dos gargalos em transporte e logística, da excessiva burocracia estatal, da precariedade da educação que tanto compromete a qualificação da mão de obra, da valorização excessiva do real frente às moedas estrangeiras, a falta de investimentos em inovação tecnológica, entre outras mazelas.     

Apesar da perspectiva de crescimento do PIB nacional da ordem de 7% este ano, sabemos que este ritmo não se sustenta. Compromisso tem quem não pensa apenas em festejar, mas quem tem cuidado em zelar pelo futuro. Afinal, preferimos as formigas às cigarras. Estimativas, inclusive, apontam para um recuo de 4,5% nos próximos anos.

Se você não confia em estimativas, basta observar os dados oficiais, entre 1995 e 2009, em que o crescimento médio do País ficou em 2,9%. Neste mesmo período, a elevação de renda foi de 22%, ante 100% na Índia e 226% na China. Nossa participação relativa na produção mundial caiu de 3,1% em 1995 para 2,9% em 2009. A China saltou de 5,7% para 12,5%, enquanto a Índia foi de 3,2% para 5,1%.

Claro que estamos falando de dois países que comportam quase que um terço da população mundial, com regimes de governo distintos e legislações trabalhistas quase que inexistentes. Todavia, existem lições que podemos tirar do modelo de crescimento destes países, tais como: investimento pesado na produção industrial e na inovação, câmbio subvalorizado e altas poupanças externas.

A Coreia do Sul, por exemplo, praticamente se igualava ao Brasil em 1980 – seu PIB per capita equivalia a 18,8% do norte-americano, no ano passado, este percentual já alcançava 60,3%. Mágica? Não, mas investimentos pesados em educação profissionalizante, em inovação tecnológica, justamente para agregar valor aos seus produtos e ganhar espaço no competitivo mercado internacional.   

Há tempos, venho defendendo a necessidade de repensarmos o atual modelo econômico, que não atende mais a necessidade premente de crescermos de maneira sustentável e duradoura. Trocando em miúdos, ele está baseado no tripé: câmbio flutuante – superávit primário – metas de inflação. Trata-se de um modelo estritamente monetarista que utiliza-se de altas taxas de juros para segurar a demanda interna e se escora na sanha arrecadatória e no baixo investimento para gerar superávit primário, o que sepulta qualquer chance de um crescimento econômico mais vigoroso.

Precisamos de um Projeto Nacional de Desenvolvimento com ênfase na educação, capaz de tornar o Estado mais eficiente, de avançar na geração de bens de maior valor agregado e estimular a poupança interna e o investimento. Independente das administrações e colorações partidárias, seja capaz de nos preparar para os desafios que virão com a exploração do Pré-sal, a realização da Copa 2014 e as Olimpíadas 2016, e que deixe um legado de espírito público para as futuras gerações, fazendo com que o “gigante adormecido” chamado Brasil se levante e ocupe um lugar de destaque na economia global.

 

Deputado Arnaldo Jardim – vice-líder do PPS na Câmara Federal.

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