Deputado Arnaldo Jardim

Apagão na reciclagem agrava efeitos de pandemia - 2020

Arnaldo Jardim

O lixo é um dos grandes desafios da humanidade desde a declaração da pandemia do novo coronavírus pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tornou-se um sério problema. Diante da possibilidade de transmissão do vírus por meio dos resíduos sólidos descartados por quem está em isolamento domiciliar, por suspeita ou infecção pela covid-19, a necessidade de cuidados aumentou.

O risco de contaminação e a falta de conhecimento de como lidar adequadamente com esses resíduos levaram governadores e prefeitos a suspenderem os serviços de coleta seletiva. Todo o lixo gerado agora vai direto para os aterros ou lixões. Essa medida, porém, trouxe consequências devastadoras para o setor.

A começar pelas cooperativas de catadores, responsáveis, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), pela coleta de 90% de todos os resíduos recicláveis no país. Um exército de mais de 1 milhão de catadores, que trabalha de forma autônoma ou integrada a cooperativas, na seleção de todo o material recolhido na cidade, de onde retiram seu sustento, subitamente, foram obrigados a suspender as atividades.

Em São Paulo, desde o início do isolamento social, a Vigilância Sanitária recomendou que as 25 cooperativas de reciclagem da cidade suspendessem as suas atividades. Essa interrupção, que ocorreu em quase todo o país, trouxe, além da perda de renda das famílias, dificuldades para as cooperativas, que se encontram sem condições de fazer frente às despesas básicas de manutenção como água, energia, transporte, etc.

Se por um lado esse tipo de trabalho implica em contato direto com o material coletado, aumentando o risco de contaminação dos profissionais da reciclagem, especialmente os catadores, por outro, a suspensão da coleta seletiva resulta em mais resíduos dispostos em lixões e aterros sanitários. Desde o início do isolamento social, por exemplo, houve, segundo a Abrelpe, um aumento de 15 a 25% na geração de resíduos domiciliares.

As empresas recicladoras também sofrem com a pandemia. A cadeia da reciclagem é alimentada exatamente pelos materiais coletados e selecionados nas cooperativas. Sem matéria-prima, estão paradas.

A Frente Parlamentar da Economia Verde, coordenada pelo deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) e apoiada pela Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio), está sensível à situação das cooperativas, mas partilha da preocupação em priorizar a segurança e a saúde de todos. Defende, por isso, que a atividade deve ser retomada, mas somente com a adoção de um protocolo de segurança adequado à atividade da reciclagem.

No mês em que comemoramos o Dia Internacional da Reciclagem é nossa obrigação pensar e propor soluções para que essas pessoas possam ter a segurança de retomarem seus trabalhos tão logo seja possível, garantindo novamente a destinação adequada dos resíduos. A própria Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, já recomendou a continuidade da coleta seletiva e da reciclagem no território europeu, com a segurança necessária, é claro, por entender que a reciclagem é atividade essencial, fundamental para a manutenção da saúde das pessoas.

A interrupção da coleta seletiva no contexto da Covid-19 nos obriga a repensarmos velhos hábitos de consumo. Sem previsão clara para o término do isolamento social, persiste a questão de como podemos contribuir para reduzir o impacto ambiental que causamos. Não seria a hora de optarmos por produtos ambientalmente responsáveis? De descartamos corretamente os resíduos gerados em nossa casa?

Esperamos que a pandemia leve os brasileiros a rever sua relação com o lixo doméstico. O momento é propício para colocarmos ainda mais em prática a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), da qual fomos protagonistas e que completa 10 anos em agosto, e orientarmos a economia brasileira para um modelo verde, circular, que gere cada vez menos resíduos.

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