Arnaldo Jardim
Nas últimas décadas, a humanidade avançou muito na relação com o meio em que vivemos. O extrativismo despreocupado com a finitude e a preservação dos recursos naturais, a precarização das relações sociais e de trabalho, o uso em larga escala de processos produtivos pouco eficientes, começaram a ser questionados e paulatinamente aperfeiçoados.
A gestação de uma nova revolução industrial está em curso, em que o objetivo é produzir mais, utilizando menos, respeitando o meio ambiente e o ser humano. Quem não se adequar aos princípios da sustentabilidade sócio-ambiental do seu negócio, corre o risco de ser atropelado pela locomotiva dos acontecimentos.
No Brasil, a profusão de prêmios corporativos de sustentabilidade, responsabilidade social e preservação ambiental, demonstra o surgimento de uma nova identidade empresarial mais compromissada e consciente do seu papel na melhoria a qualidade de vida de todos nós. Exemplos não faltam, como o recente Prêmio Eco, uma parceria entre o jornal Valor Econômico e a Ancham – Câmara America de Comércio, em meio a outros mais tradicionais como o Benchmarketing Ambiental e o Prêmio Abrelpe, só para citar alguns.
O uso de energias renováveis que sempre pareceu uma ótima idéia para um futuro distante, já se tornou uma realidade em todo o mundo. Neste campo somos referência mundial, enquanto no mundo a média de uso de energias renováveis é de 13%, no Brasil, essa percentagem chega a 46%.
Mantendo o pioneirismo na área, em que somos reconhecidos internacionalmente pela experiência de quase quarenta anos com o etanol movendo veículos de passeio, vamos começar a utilizar o hidrogênio no transporte publico. A partir de março, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) colocará nas ruas paulistas o primeiro ônibus movido à célula de energia, como parte de um projeto de R$ 38,5 milhões, que inclui a montagem de mais três unidades. A expectativa é num período de dez anos dispormos de uma frota mista.
A capital mineira Belo Horizonte entrou no cenário mundial quando se trata de construções sustentáveis, onde são mais de mil edificações, entre residências, hotéis e hospitais que utilizam a energia solar para aquecer a água. Leis na cidade de São Paulo e no Estado do Rio de Janeiro também determinam que as construtoras criem mecanismos para aproveitar a luz solar e usem materiais sustentáveis em suas edificações.
Em Osório (RS), está o maior parque eólico da América Latina, com 75 turbinas que podem garantir o consumo de 650 mil pessoas. O Estado de São Paulo, juntamente com os Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, também despontam pelo potencial de geração de bioeletricidade, a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar.
Apesar de comemorar essa mudança de hábitos, estas iniciativas que ainda são exceção precisam se tornar regras, não apenas no Brasil como em todo o mundo. A recente tragédia de Santa Catarina alerta para um risco que está sendo negligenciado: as mudanças climáticas vão aumentar a freqüência e a gravidade de eventos extremos, como secas, enchentes e ciclones.
Referência em algumas áreas, em outras estamos apenas engatinhando, ou pior, nos enganando. O lançamento do Plano Nacional Contra as Mudanças Climáticas foi uma decepção. Independente da querela entre países desenvolvidos e emergentes sobre a maior ou menor responsabilidade sobre as emissões de poluentes de efeito estufa, que sempre dominaram os debates no Protocolo de Quioto, todos temos condições de oferecer a nossa cota de contribuição. Claro que os EUA são os maiores poluidores do mundo e deveriam liderar esta campanha, mas os números do desmatamento no Brasil nos colocam, seguramente, entre os grandes emissores de gases de efeito estufa.
Toda a mobilização e os mecanismos advindos do debate em torno da redução das emissões de gás carbônico na atmosfera precisam ser retomados. É fundamental estabelecermos um marco regulatório, mecanismos de compensação e de fomento de tecnologias de combate ao efeito estufa em todo o mundo. Se Quioto deu início ao caminho da sustentabilidade, precisamos retomá-lo o quanto antes. A diplomacia brasileira, assim como outros países emergentes, precisa deixar de lado o pragmatismo e sair na frente para demonstrar que é possível crescer de uma maneira sustentável, comprometendo ao mínimo o nosso meio ambiente.
Da minha parte, pretendo priorizar a minha atividade parlamentar na aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, da Política de Eficiência Energética e no fomento das energias limpas e renováveis na nossa matriz energética.
Arnaldo Jardim – Deputado Federal (PPS-SP), coordenador do Grupo de Trabalho da Política Nacional de Resíduos Sólidos e membro da Subcomissão da Política Nacional de Eficiência Energética.
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