Arnaldo Jardim
A adoção de fontes energéticas mais limpas deixou a seara dos ambientalistas para ganhar status estratégico na agenda das potências mundiais. Não se trata mais de “bom-mocismo ambiental”, mas da necessidade premente de encontrarmos uma alternativa economicamente viável e menos nociva ao meio ambiente que os finitos derivados fósseis.
Estimulado pelas pesquisas que comprovaram a interferência do homem nas mudanças climáticas no mundo e com o fim anunciado da Era do Petróleo, montei no âmbito da Assembléia Legislativa a Frente Parlamentar pela Energia Limpa e Renovável.
Nestes cinco anos de existência, tive a oportunidade de promover e participar de vários eventos, no sentido de discutir questões concretas, como: a retomada da produção do álcool combustível, por meio do combate a adulteração e a sonegação, além da desoneração tributária, contribuindo, assim, para o sucesso de vendas dos veículos dotados da tecnologia flexível (hoje, são mais de 1,2 milhão de unidades em todo o País); a ratificação do Protocolo de Kyoto e o nosso ingresso no mercado de créditos de carbono (que já movimenta cerca de US$ 10 bilhões em todo o mundo); a expansão da co-geração de energia a partir do bagaço da cana na rede pública; o desenvolvimento tecnológico e científico de toda a cadeia produtiva, através da criação de cursos específicos na Fatec/ETE para o setor sucroalcooleiro; a discussão sobre as chamadas células de energia, quando trouxemos o Prof. Jeremy Rifkin, um dos maiores especialistas na área; e, mais recentemente, a implantação do Programa Estadual de Biodiesel.
Acredito que este seja o papel do Parlamento: estar em sintonia com o que acontece no mundo, discutir propostas e elaborar leis que garantam a estabilidade necessária para o crescimento das energias limpas e renováveis na nossa matriz energética, gerando empregos e renda no campo. Um trabalho árduo, mas que rendeu frutos importantes para definirmos o futuro do Estado, do Brasil e porque não do mundo.
Um importante passo foi dado recentemente. O presidente da Unica, entidade que agrega cerca de 50% da produção brasileira de açúcar e álcool, esteve no Comitê de Relações Exteriores do Senado norte-americano para discutir a “Segurança Energética na América Latina”. Na ocasião, Carvalho defendeu uma parceria entre o Brasil e os EUA para consolidar um mercado global do álcool combustível, uma vez que, juntos, respondem por cerca de 34 bilhões de litros/ano, ou seja, 70% da produção mundial.
A ampla experiência brasileira, construída ao longo dos últimos trinta anos, possibilitou não apenas utilizarmos um alto teor de mistura na gasolina, como também produzirmos carros movidos a álcool ou os atuais veículos flexíveis. Hoje, são mais de 33 mil postos espalhados pelo País que dispõem de uma bomba de álcool. Já os EUA têm expandido sua produção de álcool à taxa de 20% ao ano, conseqüência de políticas públicas adotadas para aumentar o consumo para 28,39 bilhões de litros, em 2012.
Essa parceria possibilitaria o impulso necessário para que o álcool seja produzido e consumido em muitos países, por meio do estabelecimento de padrões comuns, cooperação técnica, projetos de pesquisa e, acima de tudo, trabalho conjunto para ampliar o uso álcool em todo o mundo.
A proposta de transformar o álcool em uma commodity ambiental se sustenta a partir de um tripé: econômico, ambiental e social. Em termos econômicos, com o preço do barril de petróleo ultrapassando US$ 60 o barril, o álcool brasileiro é extremamente competitivo, sem qualquer forma de subsídio. Do ponto de vista ambiental, trata-se do instrumento mais eficiente para combater o aquecimento global. Já no âmbito social, a alta taxa de geração de empregos e renda no campo fala por si.
Acredito que experiência brasileira pode ser bem sucedida em outras regiões tropicais do mundo, especialmente em países da América Latina, África e do Sudeste Asiático. Assim, poderíamos impulsionar a substituição da gasolina por um combustível mais limpo e renovável, garantir a oferta, eliminar grandes distorções de preço, além de promover o desenvolvimento econômico de vários países, sejam eles desenvolvidos ou não.
Em suma, com o livre mercado e a adoção de mecanismos de transferência de tecnologia e “know how” poderemos impulsionar um círculo virtuoso de desenvolvimento em todo o mundo. Um exemplo que pode ser seguido pelo nosso biodiesel e a cogeração de energia. Aliando preservação do meio ambiente, desenvolvimento econômico e social, garantindo, assim, novas perspectivas para as gerações futuras.
Arnaldo Jardim
Engenheiro Civil (Poli/USP) e Coordenador da Frente Parlamentar pela Energia Limpa e Renovável
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