Deputado Arnaldo Jardim

Carro Flex

Arnaldo Jardim

A tecnologia do Carro Flex salvou o Etanol e nos manteve como protagonistas na transição energética.

Há exatos 20 anos, era lançado, no Brasil, o primeiro carro FLEX, assim chamado porque consegue reconhecer o teor de Etanol na gasolina e ajusta automaticamente a operação do motor às condições mais favoráveis ao uso da mistura. No inicio dos anos 2000, e com o baixo preço do petróleo, o interesse do mercado havia se voltado quase que exclusivamente para automóveis à gasolina, o que levou ao quase abandono do biocombustível. A “flexible-fuel”  foi o sopro de vida que o Etanol precisava.

Uma tecnologia muito antiga por sinal. O primeiro veículo comercial a operar com gasolina, álcool ou uma mistura dos dois combustíveis foi o épico Modelo T, da Ford, produzido entre 1908 e 1927, mas os preços baixos do petróleo, à época, desestimularam sua produção – os motores FLEX apareceriam novamente nos carros americanos somente em 1985. No Brasil, a tecnologia deslanchou graças ao desenvolvimento de um sistema genuinamente nacional: o Software Flexfuel Sensor (SFS), mais apropriado para o gerenciamento eletrônico do combustível nacional.

Logo no primeiro ano, foram vendidos 48.178 veículos FLEX – muito pouco diante dos mais de 1 milhão de veículos à gasolina. Dois anos depois, os carros biocombustíveis já dominavam o mercado, quando foram negociados 846.710 veículos ante 644.614 movidos pelo combustível fóssil. Desde 2003, já foram produzidos mais de 40 milhões de veículos FLEX, o que representa 83% de todos os carros comercializados em território nacional. Um sucesso inconteste.

A tecnologia FLEX, entretanto, não foi desenvolvida pensando apenas nos números da indústria automobilística. Surgiu na esteira da discussão global sobre mudanças climáticas e como estratégia para reduzir a emissão dos gases efeito estufa no setor de transporte. Segundo o Ranking de Veículos em Emissões de CO2 por km rodado, um carro movido à gasolina emite, em média, 148 gramas de dióxido de carbono (CO2) por quilômetro rodado, frente a 83 g CO2 por quilômetro rodado, quando se usa a mistura com 27% de Álcool Anidro. Pode-se dizer que a emergência climática colocou o Etanol novamente no jogo.

 Com o sucesso do FLEX, e graças à curva de aprendizagem do Pro-Álcool, a recuperação da produção de Etanol foi rápida. Saltamos de 12 bilhões de litros, em 2003, para 25 bilhões de litros em 2008, e para 27 bilhões em 2017, ano em que foi aprovada a Política Nacional de Biocombustíveis, o Renovabio, cujos instrumentos de incentivo elevaram a produção para os atuais 35 bilhões de litros anuais. Com o carro biocombustível, foi possível ainda aumentar, gradativamente, a mistura de Etanol à gasolina – de 20%, em 2003, para os atuais 27%, estabelecidos, em 2014, pela Medida Provisória 647, que tive a honra de relatar na Câmara dos deputados.

E, depois de uma quase morte, eis que o Etanol ressurge com um dos principais vetores energéticos para tecnologia de transição, em função das diversas rotas tecnológicas que utilizam o biocombustível, ou seus resíduos, como matéria prima, produzindo o Biometano, o Diesel Verde, o Bioquerosene de Aviação, o Metanol, o Hidrogênio Renovável, a Amônia Verde, entre outros – produtos que estão no centro da transição energética e contribuirão para a descarbonização dos setores de energia, de transporte, de siderurgia, de cimento e tantos outros.

Sem falar do Etanol como solução para a mobilidade urbana. Montadoras como a Toyota tem apostado suas fichas no híbrido FLEX, que combina motor elétrico e motor a combustão – em muito dos casos movido a Etanol-, uma alternativa perfeita para países como o Brasil. E ainda estamos desenvolvendo as Células a Combustível, que utilizarão o hidrogênio (H2) para a alimentar um motor elétrico. Descobrimos que o Etanol é, na verdade, um cacho de elétrons, produzindo mais H2 do que a reforma a vapor do metano ou a Eletrólise da água.  Como não agradecer ao surgimento do FLEX.

Uma das certezas da transição energética é que ela não ocorrerá por uma única rota tecnológica – não há um único caminho a seguir. Cada país deverá explorar suas potencialidades para migrar para uma economia de baixo carbono.

O Etanol é o nosso passaporte para essa nova economia.

 

Deputado Arnaldo Jardim

Presidente da Frente da Economia Verde

Compartilhe nas Redes Sociais