Deputado Arnaldo Jardim

Compromisso com a sustentabilidade - 2008

Arnaldo Jardim

O tempo de lucros sem limites pode estar chegando ao fim. A eterna busca pela mais-valia que sempre caracterizou o capitalismo e fomentou o trabalho infantil, o uso de matérias-primas nocivas ao ambiente, o desperdício de recursos naturais no processo produtivo, as condições de trabalho degradantes, a produção sem se preocupar com o descarte de resíduos, começa a dar lugar a um novo conceito que evolui, se populariza e estabelece novos paradigmas de consumo e comportamento na sociedade.

A sustentabilidade adquiriu um apelo maior em relação à opinião pública e com isso tende a exigir mais do setor produtivo um papel ativo de indutor desse novo caminho. Nele, o lucro não é o fim, mas sim o meio de um processo que engloba o envolvimento empresarial em uma nova cultura ecoeficiente, criando mercados completamente novos e tornando os “produtos verdes” comercialmente viáveis, com certificações de origem e de emissões, que estimulem à sociedade a incorporar novos hábitos no seu cotidiano. 

O que antes era apenas “um sonho de uma noite de verão”, começa a ganhar contornos de realidade por meio da incorporação de medidas práticas de sustentabilidade no chão da fábrica de grandes corporações internacionais. O fenômeno da globalização pode não ter conseguido destravar as amarras do livre mercado, mas ao menos serviu para disseminar a idéia da aldeia global, na qual todos nós somos responsáveis pelo que acontece no mundo. 

Iniciativa recente, da qual participei e que merece o nosso reconhecimento, foi à realização do Fórum Wal-Mart Brasil de Varejo, que reuniu especialistas internacionais em sustentabilidade. O evento foi grandioso em todos os seus aspectos, seja pela qualidade dos conferencistas, como o numeroso público presente. Porém, chamou a atenção a estratégia sustentável apresentada pela empresa que estabelece a redução da geração de resíduos, a eficiência energética de suas lojas e o estímulo aos seus fornecedores que busquem a adequação ao conceito de ecoeficiência. Na prática, o Wal-Mart e a Coca-Cola lançaram a Estação de Reciclagem – objetiva promover a coleta seletiva e a destinação correta do lixo aumentando o valor econômico dos materiais coletados, retornando-os à cadeia de produção e protegendo o meio ambiente, em um ciclo sustentável. A iniciativa celebra a união da indústria com o varejo, sob a batuta do CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem), num sistema de apoio as cooperativas de catadores.

Essa revolução começa a tomar nossas gôndolas, com toda sorte de inovações, como: produtos de limpeza orgânicos e biodegradáveis, uso de madeira plástica, embalagens biodegradáveis, produtos com emissões de carbono neutralizadas, sistemas de impressão de rótulos livre de solventes potencialmente cancerígenos e a redução do tamanho das embalagens.

No Congresso Nacional, participo dos debates sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos; o Programa de Fomento às Energias Renováveis; e a Política Nacional de Eficiência Energética; e as discussões em torno do Saneamento Básico. Mais recentemente, a Frente Ambientalista apresentou proposta para incluir no texto constitucional da reforma tributária a possibilidade de concessão de incentivos fiscais às empresas que reduzem os seus impactos ambientais.

A população também se organiza. O consumo consciente começa a ganhar cada vez mais espaço no cotidiano do brasileiro. Práticas simples como na substituição de lâmpadas incandescentes por fluorescentes, na troca de eletrodomésticos antigos por outros novos com etiqueta Procel, e no uso de combustíveis renováveis para abastecer seus carros. O estudo “Responsabilidade Social das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro”, promovido pelos Institutos Akatu e Ethos revela que 51% da população economicamente ativa leva em conta o que o fabricante de um determinado produto faz para melhorar a sociedade em geral e 77% deles se interessam pelo tema. Entretanto, ainda existe um fosso entre o que pensa e o que pratica o consumidor brasileiro, igualmente detectado em suas ações cotidianas, como separar o lixo, comprar produtos piratas ou mesmo economizar energia.

Na administração pública, vale destacar que o Governo de São Paulo lançou o programa “Município Verde”, com o objetivo é descentralizar a política ambiental, ganhando eficiência na gestão ambiental e valorizando a base da sociedade. A adesão dos municípios ao Protocolo Verde é voluntária. Seu endosso resulta no comprometimento com uma agenda de 10 diretivas ambientais, que versam sobre: Esgoto Tratado; Lixo Mínimo, Mata Ciliar; Arborização urbana; Educação ambiental; Habitação sustentável; Uso da água; Poluição do ar; Estrutura ambiental; e o Conselho de Meio Ambiente.

Também apresentei à Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo proposta sobre a implantação do “Município Energoeficiente”, que contou com a colaboração da ABESCO – Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia. A iniciativa está em sintonia com as diretrizes do Estado para o setor energético, em especial, para a eficiência energética, e propõe medidas que fomentem políticas para a sustentabilidade e autonomia dos Municípios.

O caminho é estreito, requer ação, somatória de forças e mudanças de hábitos. Poder público, setor produtivo e sociedade precisam dizer – presente! Pois, todos nós somos responsáveis, diante do desafio de garantir a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

 

Deputado Arnaldo Jardim – Membro da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, do Grupo de Trabalho pela Eficiência Energética e integrante da Frente Parlamentar Ambientalista. 

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