Deputado Arnaldo Jardim

Energia e a Humanidade - 2009

Arnaldo Jardim

A utilização de energia tem sido crucial para o desenvolvimento da sociedade humana ao ajudá-la a controlar e a adaptar-se ao meio ambiente. Desde a descoberta do uso fogo, passando pela Revolução Industrial, até os dias de hoje, na “Era do Conhecimento”, as grandes transformações da humanidade estão diretamente relacionadas à energia, palavra de origem grega que significa trabalho. Agora, o grande desafio está em gerir o uso da energia de maneira racional e com responsabilidade e o Brasil, que dispõe de uma condição energética privilegiada, pode se tornar uma referência mundial.

No mundo industrializado, o desenvolvimento de recursos energéticos tem se tornado essencial à agricultura, transportes, tecnologia da informação, telecomunicações e etc., são pré-requisitos de uma sociedade desenvolvida. O uso crescente de energia, desde a Revolução Industrial, trouxe consigo riscos potencialmente graves para o mundo, como o aquecimento global.

O engenho humano transformou o petróleo em matéria-prima e fonte energética preferencial que marcou o século passado. Avanços tecnológicos, guerras, riquezas, golpes de estado e muitas desgraças, seja para o bem ou para mal, muito disso teve origem nos negócios com o chamado “ouro negro“. 

O fim do seu reinado não se dará pela exaustão das reservas, mas pelas limitações ambientais que devem restringir o seu uso. Afinal, a grande mazela da Era do Petróleo é, justamente, a deterioração ambiental provocada pelo uso intenso de seus derivados, principalmente pelos países desenvolvidos, nos seus parques industriais e em suas redes de transportes. Trata-se de um problema a ser equacionado, no qual todos os países tem uma grande dívida a saldar para com a Humanidade.

No Brasil, a descoberta da camada do pré-sal causou alvoroço, monopolizou os noticiários e trouxe consigo a esperança de um futuro com menos desigualdades e um crescimento econômico duradouro. Eu, inclusive, estou participando ativamente das definições sobre o pré-sal, pois sou presidente da Comissão Especial responsável pelo parecer sobre a capitalização da Petrobras.

O fato é que temos real possibilidade de entrarmos no restrito rol dos dez maiores produtores de petróleo do mundo, diante da expectativa de que o pré-sal poderia abrigar reservas entre 50 bilhões e 70 bilhões de barris de petróleo. Nossas reservas atuais estão em torno de 14 bilhões de barris equivalentes (óleo e gás).

A despeito de todo o entusiasmo, é preciso fazer uma profunda reflexão sobre a melhor matriz energética para o País, pois temos uma herança histórica privilegiada no setor, pautada pela diversidade e escorada pela sustentabilidade. Haja vista, a predominância da hidroeletricidade, o bem sucedido Programa do Álcool, o domínio da tecnologia de enriquecimento de urânio para fins pacíficos, as térmicas a gás natural para uso emergencial. E, mais recentemente, a inserção gradativa da bioetricidade da cana, das energias dos ventos e do sol, além de outras fontes renováveis que ainda nem chegaram a serem implantadas, como a maremotriz (das marés).

Nosso país é “abençoado por Deus”, como diz a música, pois temos condições climáticas, recursos naturais e inteligência nacional para não apenas assegurarmos a segurança energética para crescer, mas temos a oportunidade de escolher o melhor modelo ou padrão energético para o Brasil, além da possibilidade real de exportarmos excedentes energéticos, tecnologia e “know how” (a exemplo dos biocombustíveis e derivados de petróleo).

Para tanto, é fundamental compatibilizarmos todas as alternativas energéticas disponíveis, observando as diferentes realidades regionais, fomentando a pesquisa e desenvolvimento, no sentido de evitarmos um movimento predatório entre elas. Tudo isso, sobre o guarda-chuva de um plano estratégico de desenvolvimento energético, capaz de observar as necessidades do País no curto, médio e longo prazos, estabelecer os alicerces de uma economia de baixo carbono e nos credenciar a ser uma referência mundial em termos de diversidade energética.

 

Deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP) – presidente da Comissão Especial da Capitalização do Pré-Sal e membro da Comissão de Minas e Energia da Câmara Federal.

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