Arnaldo Jardim
A educação é o melhor instrumento para superar as barreiras da desigualdade e do baixo desenvolvimento sócio-econômico do nosso país. Setor público e privado podem se empenhar em debates tributários, regulatórios, de competitividade, de como melhorar nossa capacidade de negociação com players estrangeiros e como aumentar nossa produtividade. Mas olhar para a educação, para a formação, para as futuras gerações, é ir além de agir de maneira tópica e emergencial, com dificuldades para obter resultados consistentes a médio e longo prazo, educação para o trabalho é medida estruturante!
Há anos o país parece conscientizado de que é preciso dar uma atenção melhor à educação temos indexação orçamentária em níveis federal, estadual e municipal. Tirar as boas intenções do papel parece, no entanto, ser o mais difícil. Alguns avanços foram obtidos nos últimos anos, mas ainda vemos resultados fracos de nossos alunos nos exames de mensuração internacionais, como o PISA, por exemplo.
Pior. Além de não oferecemos um ensino regular de qualidade, perpetuamos uma visão distorcida de que o ensino profissionalizante é algo menor, voltado para quem não conseguiu trilhar o caminho acadêmico convencional. Ledo e perigoso engano. A educação profissional e tecnológica tem todas as condições de se tornar um vetor de impulsionamento da competitividade e do desenvolvimento econômico para o país.
Quando bem sistematizada e implementada, a educação profissional é instrumento de engajamento dos jovens e permite a formação de mão-de-obra qualificada e que atende diretamente às necessidades e anseios do mercado de trabalho. Em países mais desenvolvidos, como a Alemanha, mais de 60% das vagas educacionais são voltadas para o ensino profissionalizante, formando profissionais que mantêm umas das locomotivas da União Europeia avançando sempre.
No caso brasileiro, temos um quadro oposto. Levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 50% das empresas enfrentam desafios ao buscar trabalhadores qualificados, com destaque para o desequilíbrio entre as necessidades das empresas e a qualidade do capital humano disponível.
E isso se torna ainda mais grave quando analisamos dados da Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontando que o Brasil ocupa a terceira posição quando se trata de carência de trabalhadores qualificados, com 63% das empresas com mais de 10 funcionários enfrentando esse problema. Isso nos coloca em uma situação de risco que pode levar a uma iminente escassez de mão de obra. Não há crescimento sustentável nesse cenário adverso.
A baixa qualificação da mão-de-obra é um dos principais gargalos para a nossa competitividade e um dos principais responsáveis pelo alto Custo Brasil, calculado pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC) e pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), em espantosos R$ 1,7 trilhão. Esse número representa o quanto as empresas brasileiras precisam gastar a mais para produzir o mesmo que os países que estão na OCDE.
Por isso, o MBC e a Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo defendem uma atenção especial ao relatado pelo deputado Mendonça Filho (União-PE) que propõe revisões no Novo Ensino Médio. Entendemos que o texto está conectado com as necessidades de aprimoramento do ensino médio e superação dos desafios educacionais urgentes do Brasil.
Para isso, é essencial o aumento da carga horária da parte de escolha do estudante, com possibilidade de aproveitamento integrativo com a carga-horária da Formação Geral Básica (FGB). Ela vai permitir aos estudantes uma maior flexibilidade e autonomia na escolha de disciplinas alinhadas com seus interesses e objetivos educacionais. Da mesma forma é importante reconhecer o notório saber das redes de ensino para atuação exclusiva na Educação Profissional e Tecnológica, chancelando que o conhecimento prático e a experiência profissional são formas válidas de qualificação.
Outros pontos importantes que precisam ser valorizados no PL são a valorização da educação digital como componente curricular do ensino fundamental e médio, e a organização dos componentes curriculares por áreas do conhecimento, em diálogo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O primeiro ponto é essencial para assegurar que os alunos adquiram habilidades fundamentais para usar as tecnologias de maneira crítica e responsável, na vida profissional e na pessoal. O segundo garante que os objetivos educacionais estejam alinhados com as diretrizes nacionais, promovendo a qualidade e a uniformidade da educação em todo o país.
Pensar Educação é jogar sementes que vão gerar frutos a médio e longo prazo. Mas a semeadura precisa ser feita logo. Já perdemos muito tempo admirando países que fizeram essa aposta e hoje colhem resultados positivos. Chegou o momento de nossa virada educacional rumo a um futuro mais competitivo.
Tatiana Ribeiro é diretora-executiva do Movimento Brasil Competitivo
Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) é deputado e presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo
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