Deputado Arnaldo Jardim

Nossa Terra, nossa força - 2010

Arnaldo Jardim

O agronegócio deverá novamente exercer o papel de força motriz entre os fatores que devem impulsionar o nosso crescimento econômico este ano, algo entre 5% e 6% do PIB. Estimativas confirmam que o agronegócio voltará a bater recordes de produtividade, um alento e tanto para as nossas contas externas, um sinal de recuperação importante cinco anos após uma das mais graves crises de renda que o setor atravessou. Todavia, a boa produção no campo sempre evidencia velhos e persistentes problemas da porteira para fora.

A safra nacional de grãos deverá chegar a 143,1 milhões de toneladas, 5,9% maior que a anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Dados semelhantes aos apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que calcula uma safra de 143,4% milhões de toneladas, representando um aumento de 7,2% se comparada ao período de 2008/2009.

O crescimento da China e de outras economias emergentes deverá oferecer a sustentação necessária dos preços internacionais para reduzir o endividamento no campo. Com a herança das crises climáticas e de renda de 2004 e 2005 a dívida rural chegou a R$ 16,8 bilhões em 2007, devido à parcela de débitos com programas de investimento, financiamentos de custeio e fundos constitucionais, além de passivos com fornecedores privados e com o Tesouro. A projeção para este ano indica que o endividamento do setor recuou para R$ 9,4 bilhões. Essa é uma tendência que deve se repetir nas próximas safras.

No ano passado, as exportações do setor agropecuário renderam US$ 64,7 bilhões, 9,8% menos do que no ano anterior, por conta da crise global que derrubou as cotações das principais commodities da nossa pauta de exportação. Ainda assim, o superávit comercial do agronegócio chegou a US$ 54,9 bilhões, mais do que o dobro do superávit geral obtido pelo País no ano passado.

Entretanto, eficientes da porteira para dentro, o chamado Custo Brasil deve afetar a lucratividade e a capacidade de investimentos dos produtores e o potencial de consumo das famílias envolvidas na atividade. Basta observarmos o estado deplorável de ferrovias e rodovias, a falta de armazéns, a distância dos postos de escoamento e a capacidade deficiente para o embarque de grandes volumes na maioria dos portos nacionais.  É inegável que nossos eficientes produtores padecem de uma logística precária para quem almeja se tornar o “celeiro do mundo”.

Como se não bastasse os problemas de logística e transporte, ainda convivemos com uma preocupante insegurança no campo, reforçada pelas recentes ameaças do Plano Nacional de Direitos Humanos. As eternas querelas entre os Ministérios do Meio Ambiente, Agricultura, Desenvolvimento Agrário e até a Pesca, demonstram a ausência de uma estratégia integrada por parte do Governo Federal que seja capaz de compatibilizar o aumento da produção de alimentos, aperfeiçoar a sustentabilidade nos diferentes segmentos agrícolas, investir na pesquisa e ganhar espaço no competitivo mercado internacional.

Entre os principais problemas destaco: a necessidade de rever de forma séria e realista o Código Florestal; combater o desmatamento; repensar o modelo de reforma agrária; garantir o direito à propriedade; melhorar nossa defesa sanitária; incentivar práticas menos emissoras de gases de efeito estufa por meio do transporte hidroviário; combater a concentração do setor de fertilizantes que aumenta o custo de produção; diminuir a carga tributária sobre os alimentos, que atinge a marca de 19% frente à média de 5% no restante do mundo; e assegurar uma participação mais ativa nas diversas negociações internacionais em curso, seja sobre clima, biodiversidade, biotecnologia e abertura comercial.

Diante deste quadro, é fundamental uma estratégia agrícola multidisciplinar e integrada, capaz de contemplar os diferentes segmentos que compõem o nosso bem sucedido agronegócio, desde a produção, escoamento, comercialização, pesquisa e que respeite as florestas, a água e a biodiversidade.

De toda a forma, o agronegócio será, mais uma vez, a mola propulsora do nosso crescimento econômico. Cabe ao Governo definir como se comportará neste processo, se será capaz de acompanhar a eficiência do nosso homem do campo, contribuindo para reduzir o chamado Custo Brasil, ou se vai continuar convivendo com as ambiguidades que ele mesmo criou para compatibilizar interesses destoantes neste período pré-eleitoral.

 

Arnaldo Jardim – vice-líder do PPS na Câmara Federal

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