Arnaldo Jardim
Definir bem a política cambial é um ponto extremamente estratégico para um país como o Brasil, que tem uma baixa participação no comércio exterior. Ampliar esta participação é fundamental para que possamos ter fluxos de moeda estrangeira e, portanto, gerar um maior aquecimento da nossa própria economia.
No nosso País tem se proclamado há muito tempo que uma das balizas dos marcos macroeconômicos é a definição pelo “câmbio flutuante”, ou seja, que o câmbio flutua de acordo com o mercado sem uma predeterminação. Eu tenho plena convicção de que esta definição, tomada ao pé da letra, é extremamente limitada e nos desarma.
Em alguns momentos, a política cambial no Brasil foi usada como um instrumento de contenção da inflação, permitindo importações, fazendo com que nós tivéssemos assim fluxos de bens e serviços a um preço mais baixo. Por outro lado, sabemos que, quando isso aconteceu – e nós tivemos o real sobrevalorizado – significou fragilizar nossa presença no mercado internacional, ao comprometer nossa capacidade de exportação.
Isso nos levou a ampliar as importações de uma forma nada criteriosa. A importação é muito bem-vinda e é importante quando significa compra de bens de capital, ou seja, equipamentos e instrumentos que aumentem a produtividade do País. Porém, quando se concentra em produtos de bens não-duráveis, tais como sapatos, roupas ou outros itens de consumo, nós temos na realidade uma verdadeira exportação de empregos.
Para um país como o Brasil, com legislação ambiental e trabalhista sérias, o custo social do risco da importação de origens que não seguem esses princípios é muito alto.
Recentemente tivemos uma retomada da valorização do dólar e desvalorização do real e as consequências se fizeram sentir imediatamente. Nós reequilibramos a nossa balança comercial, que começava a apontar no rumo do déficit, voltamos a construir superávits. E os nossos produtos, tanto agrícolas quanto industriais, retomaram sua competitividade internacional.
Em janeiro de 2015, o dólar estava cotado abaixo de R$ 2,75. Já em janeiro deste ano, custava mais que R$ 4. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, é preciso um equilíbrio nessa cotação. Mantermos o dólar custando em média R$ 3,40, R$ 3,50 garante força ao agronegócio, aquece a economia, faz o dinheiro circular e o Brasil ter superávit em sua balança comercial.
Agora estamos vendo se iniciar um outro ciclo de novamente termos uma perda do poder aquisitivo do dólar, ou seja, uma revalorização do real. Isso pode ser algo muito danoso para o futuro. Os mais novos dados do centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP mostram o quanto é positivo para o campo ter o dólar valorizado.
O levantamento da Esalq analisa o primeiro quadrimestre de 2016, com a moeda norte-americana ainda em trajetória de valorização, e aponta que o faturamento em dólar das exportações do agronegócio brasileiro cresceu 10% e, em real 28% em relação ao mesmo período de 2015. Bom desempenho alcançado mesmo com a queda nos preços da maioria das commodities agrícolas, tanto em dólar quanto em real.
No período de maio de 2015 a abril de 2016, comparando com os 12 meses anteriores, o volume exportado aumentou 30,6%. Os preços médios em dólares recebidos pelos exportadores diminuíram 18,6%, reflexo da baixa geral do preço das commodities. Mas o dólar valorizado fez com que a taxa de câmbio efetiva do real do agronegócio aumentasse 22%.
A valorização da moeda norte-americana garantiu que exportações do agronegócio brasileiro entre janeiro e maio deste ano alcançasse US$ 36,7 bilhões, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). É um crescimento de 7,4% com relação ao mesmo período de 2015.
O complexo soja liderou as exportações com 37% do total. Também aumentaram as vendas externas de cereais, farinha e preparações (56,8% em receita), complexo sucroalcooleiro (8,5%), produtos florestais (2,3%) e carnes (0,9%). A balança comercial permaneceu com superávit no mês de maio, com as exportações superando as importações em US$ 7,6 bilhões. Principal destino dos produtos brasileiros, a China importou o equivalente a US$ 3,2 bilhões.
A política aplicada pelo atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que consiste em praticamente retomar os marcos macroeconômicos, combater a inflação e promover o equilíbrio fiscal, tem o nosso apoio. Mas a política cambial precisa ser tratada como um instrumento não de política monetária, mas como uma ferramenta de crescimento da nossa competitividade internacional, para a retomada do desenvolvimento.
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