Arnaldo Jardim
Participo na Holanda dos 50 anos da Koppert, referência mundial em proteção biológica de culturas protegidas. Desde 1967, a empresa cresceu e se tornou uma multinacional com um faturamento anual de 190 milhões de euros. Hoje, conta com 1.200 funcionários distribuídos em 26 países, incluindo mercados como China, Brasil, Estados Unidos e Rússia.
A empresa também exporta para mais de 90 países e, recentemente, começou a produzir organismos microbiológicos como fungos e bactérias para cultivo em campo aberto. Eles aumentam a resiliência das culturas e enriquecem a biodiversidade e os nutrientes do solo.
Este é um exemplo de centenas de empresas que se estabeleceram neste setor e que no Brasil é representada pela Associação Brasileira das Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio).
Este expressivo aumento na produção e no uso dos biodefensivos é geral e comprova que eles chegaram para ficar na agricultura mundial. É a solução contemporânea para nos auxiliar a vencer o desafio de produzir alimentos de qualidade e em grande quantidade, mas sem afetar a natureza – utilizada em seu próprio favor neste caso.
O agricultor, aos poucos começa a aprender que alguns insetos são extremamente benéficos a sua lavoura. Inimigos naturais de pragas que afligem sua produção, combatem a natureza com o poder da própria natureza.
Usados de forma complementar ou alternativa aos agroquímicos, os biodefensivos trazem a vantagem de serem ambientalmente amigáveis, seguros para quem os aplica e não deixarem resíduos químicos nos alimentos. É um ganho multiplicado por quatro: a natureza é preservada, a produção e a produtividade crescem com o manejo das pragas e doenças, o trabalhador rural tem sua saúde preservada e o consumidor tem à mesa um alimento muito mais saudável.
É por isso que há tanta urgência em uma utilização maior destes produtos. Não podemos nem devemos demonizar a ciência e os produtos químicos utilizados até aqui, mas estes mesmos produtos sofrem com a resistência do que combatem. Em um certo momento é preciso também a força da natureza para solucionar isto.
Um manejo integrado, considerando a biodiversidade de cada região e monitorando de perto e com cuidado a lavoura, leva ao agricultor a certeza de que aquela praga ou doença está sob controle – sem a necessidade de sucessivas aplicações de defensivos químicos, representando também menor custo.
Mas é neste aprendizado que temos um dos principais desafios a serem vencidos. A consciência do produtor brasileiro ainda é focada na química. Precisamos conscientizar sobre os benefícios e a eficácia dos biodefensivos com uma extensão rural presente, que acompanhe de perto a aplicação deste tipo de produto para garantir resultados.
É preciso dar condições para o sucesso dos biodefensivos no campo, o que pode ser feito aos poucos, em pequenas áreas para experimentação. Com o bom resultado surgindo, nosso agricultor com certeza se animará e utilizará os biológicos em toda sua plantação. O agricultor precisa entender a tecnologia que está utilizando.
Na área da pesquisa, os biodefensivos já vêm ganhando espaço há algum tempo. No nosso Instituto Biológico (IB) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo temos uma referência neste assunto. As pesquisas do IB resultaram em parcerias para transferência de tecnologias para 56 fábricas de agentes biológicos no Brasil e no exterior.
Pode-se dizer que 99% das empresas que hoje comercializam produtos biológicos têm cepas do IB, inclusive as grandes multinacionais de químicos que estão produzindo biológicos. São empresas que estão cada vez mais interessadas em produzi-los de olho no expressivo crescimento deste mercado.
Para termos uma ideia, em 2008 foi registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apenas um produto biológico, ao mesmo tempo em que se registrava 138 químicos. Em 2009 também apenas um biológico registrado, contra 101 químicos.
Mas esta realidade foi mudando ao longo dos anos e, em 2015, registrou-se 29 biológicos e 65 químicos. Em 2016, 39 biológicos e 75 químicos. Entre 2010 e 2016, a proporção de produtos biológicos registrados no Mapa para uso no Brasil saltou de 10% para 60% em relação aos químicos.
Um mercado que atualmente representa apenas entre 1% e 2% dos defensivos vendidos, mas tem registrado crescimento anual de 10% a 15% e deve, em 2020, ser responsável por entre 10% e 15% do faturamento do setor.
Precisamos avançar para a agricultura que não trabalha contra a natureza, mas em harmonia com ela. Resultando em mais, melhores e mais seguros alimentos com menos pressão sobre o meio ambiente.
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