Deputado Arnaldo Jardim

O preço - do desperdício 2008

Arnaldo Jardim

Deixar tudo para última hora, dizem ser este o comportamento do Brasil. Avesso ao planejamento de longo prazo, preferimos reagir aos fatos, em vez de nos prepararmos para enfrentá-los. Essa postura imediatista não é individual e nos faz perder oportunidades de tomarmos medidas capazes de evitar adversidades substantivas. A questão energética serve de exemplo. 

O Brasil desperdiça cerca de R$ 10 bilhões por ano devido ao mau uso da energia. Com este valor o País poderia construir mais uma hidroelétrica de Jirau, orçada em R$ 8 bilhões e com potência instalada de 3.300 MW. Os números são da Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia (Abesco), mas são considerados conservadores. É que com o aumento do preço internacional do barril petróleo, acima de US$ 130, a tendência é que esse montante alcance cifras ainda mais astronômicas até o fim de 2008.

A conta do acionamento das usinas térmicas (de janeiro a abril), por exemplo, que utilizam óleo combustível e diesel, já superou a barreira de R$ 1 bilhão e vai pressionar o reajuste de tarifas das distribuidoras nos próximos meses, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

Estudo do Banco Mundial aponta que o Brasil poderia economizar US$ 2,5 bilhões/ano se usasse todo o seu potencial de eficiência energética. Atualmente, o Brasil é o 10º maior consumidor mundial de energia, mas seu consumo deve dobrar até 2010. Se a eficiência energética não melhorar, isso poderá trazer sérias conseqüências ambientais, econômicas e sociais.

Essa preocupação orientou o 5º Congresso Brasileiro de Eficiência Energética e Cogeração de Energia, evento organizado pela Abesco. Sendo um dos palestrantes, representando o recém- criado Grupo de Trabalho destinado a estabelecer diretrizes de implantação de Programas de Uso Racional e a Política Nacional de Eficiência Energética, no âmbito da Comissão de Minas e Energia, destaco a importância deste encontro!

Meu posicionamento afasta a concepção ultrapassada de que campanhas de economia e de eficiência energéticas estão subordinadas ao risco de falta de energia que se avizinha. O PIB pode crescer mais com menor consumo de energia. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), antes, no Brasil, para cada ponto percentual de crescimento, o consumo de energia crescia dois pontos percentuais. Hoje, a paridade já está próxima de um para um, semelhante à de países desenvolvidos.

Neste aspecto, o setor industrial se destaca no quesito conservação, isso porque, em alguns casos, o custo da energia chega a 70% do valor do produto fabricado, como é o caso do alumínio (para cada tonelada do produto, o setor precisa de 15 MW/h de energia). O consumo de energia gerada pela autoprodução de grandes indústrias deve crescer na média de 11,2% ao ano, ainda segundo o EPE. O aumento esperado na área de autoprodução de energia contribuirá para que o consumo industrial perca importância na participação no consumo final da rede. Atualmente, a indústria responde por 46% do total consumo do sistema interligado, percentual que baixará para 44%, em 2012, e 42% em 2017.

Essa postura não apenas contribui para a geração de energia, como também contribui para o meio ambiente. No setor químico e petroquímico, por exemplo, a emissão de CO2 baixou consideravelmente nos últimos anos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o uso de fontes renováveis de energia passou de zero, em 2001, para 4,37 quilos por tonelada de produto, em 2006. Todavia, a recente crise de oferta de gás natural fez com que algumas indústrias voltassem a queimar combustíveis pesados.

Segundo a própria Abesco, o campeão de desperdício é o setor público, com 45%. Em segundo lugar está o comércio, com 30% e, por último, a indústria, com 15%.

Destaco o esforço do Programa Nacional de Conservação de Energia (Procel), no  âmbito do Ministério de Minas e Energia, e a linha de financiamento do BNDES que apóia iniciativas empresariais de racionalização, mas, bem sabemos que esta questão precisa ganhar maior prioridade política e ações públicas mais incisivas!

Aproveitando o momento de debate das eleições municipais, apresentei a proposta para implantação dos Municípios Energoeficientes. Trata-se de um conjunto de propostas que visam tornar a geração e consumo energético um elemento de compartilhamento entre Estado e municípios, de maneira a fomentar a eficiência energética real e sustentável. Entre elas, destaco:

– iluminação pública: a substituição por lâmpadas e luminárias mais eficientes e a automação operacional;

– prédios públicos: implantar o “retrofit” nas áreas de iluminação e ar condicionado;

– utilizar a cogeração por meio do uso da biomassa e de aterros sanitários;

– estimular a educação da eficiência energética na comunidade, disseminando o consumo consciente;

– habitações energoeficientes: aproveitamento de estruturas já existentes, como o Programa Cidades Solares; – Constituir a Secretaria Municipal de Energia, em municípios com população superior a 100 mil habitantes, um órgão responsável pela política de eficiência energética;

– instituir o Conselho Municipal Energético, com funções consultiva e deliberativa, com a plena participação da comunidade científica, da sociedade civil e das ONGs.

Reitero que a redução de tributos sobre produtos capazes de poupar energia, a ampliação da atuação do Procel e a adoção de campanhas permanentes para motivar a população a práticas de consumo inteligente e racional energético, são medidas importantes, mas ainda tímidas. Precisamos tratar a questão da eficiência energética de forma estrutural. Geração, transporte e consumo precisam mirar a eficiência. Em outras palavras – otimizar o gasto doméstico, industrial e do comércio. Ou seja, ao lado dos investimentos em geração, deve figurar a poupança energética. Assim, faço uso das palavras de Jim Rogers, presidente da Duke Energy: “a usina mais barata e eficiente é a que não precisamos construir”.

 

Deputado Arnaldo Jardim – coordenador do Grupo de Trabalho destinado a estabelecer diretrizes de implantação de Programas de Uso Racional e a Política Nacional de Eficiência Energética.

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