Arnaldo Jardim
A cana começa a ser cortada pelos trabalhadores e pelas máquinas, as caldeiras aquecidas pelo bagaço, a planta transformada em açúcar e álcool. Tem início a safra canavieira 2005/06 na região Centro-Sul, que não poderia ser melhor – diante da vitória na disputa do açúcar no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio), o sucesso de vendas dos veículos flexíveis e as perspectivas de aumento das exportações de açúcar e álcool. Parafraseando o presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, ao comentar a retomada do setor nos últimos anos: “O céu é o limite”.
Segunda a própria Unica, a produção de álcool desta safra pode crescer 1,5 bilhão de litros em relação à safra passada, de 13,6 bilhões de litros, e pode superar os 15 bilhões de litros, um aumento de 11%. Já a produção de açúcar poderá ter um crescimento de 2,6%, passado dos 22,12 milhões de toneladas produzidas na safra 2003/04 para 22,78 milhões de toneladas. A safra de cana-de-açúcar da região Centro-Sul do País irá atingir os 345 milhões de toneladas de cana, com um acréscimo de 5,7% da área a ser colhida em relação à safra anterior, somados a um percentual de área remanescente da última safra.
Essa deve ser uma safra mais alcooleira, em virtude do sucesso de vendas dos chamados veículos flexíveis. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – Anfavea, os veículos dotados da tecnologia que os permite rodar tanto com álcool quanto gasolina representam 32,8% do mercado de veículos novos no acumulado deste ano, contabilizando 162 mil unidades comercializadas. Somadas com as vendas do ano passado, são 490 mil veículos flexíveis rodando no País.
Além de um forte mercado interno, o setor sucroalcooleiro brasileiro começa a vislumbrar a perspectiva de exportar o nosso álcool combustível. A ratificação do Protocolo de Kyoto, os altos preços do petróleo e a criação de contratos internacionais propiciaram ambiente para o Brasil se tornar o maior exportador mundial de biocombustíveis. Japão, China, EUA, Índia, Tailândia e países europeus já demonstraram interesse em adotar o álcool como aditivo da gasolina, projetando um mercado superior a 30 bilhões de litros. Para sermos bem-sucedidos nesta empreitada, o setor deve demonstrar a maturidade necessária para atender tanto o mercado interno como garantir a entrega do produto no mercado externo. Além, é claro, de contar com investimentos no desenvolvimento e adequação da logística de exportação. Para esta safra, a cadeia produtiva da região Centro-Sul projeta um volume de 1,8 bilhão de litros de álcool que serão exportados, quase o mesmo patamar da safra 2004/05.
A recente decisão da OMC, de condenar os subsídios da União Européia (UE) para a exportação de açúcar branco, também traz bons horizontes para este mercado. Afinal, seu custo de produção de açúcar branco supera a marca de US$ 700 a tonelada, ao passo que os preços praticados no mercado futuro de Londres não chegam, atualmente, a US$ 250 a tonelada. Graças aos subsídios concedidos por seu regime de açúcar, a UE tornou-se o segundo maior exportador mundial do produto, ocupando o espaço de produtores mais eficientes, como Brasil, Austrália, Tailândia e África do Sul, entre outros. Com isso, calcula-se que o Brasil perca receita de US$ 400 milhões ao ano aos preços atuais. A questão agora está no prazo que a UE disporá para adequar o seu regime de açúcar às regras estabelecidas pela OMC. Mesmo assim, o setor espera aumentar as exportações de 14,29 para 14,70 milhões de toneladas, se contabilizarmos apenas as previsões da região Centro-Sul.
No âmbito da Frente Parlamentar pela Energia Limpa e Renovável da Assembléia paulista, temos discutido a implantação do Programa Nacional de Biodiesel, o tratamento tributário diferenciado para os veículos flexíveis e a expansão da utilização da biomassa da cana. São novos desafios, que dentro em breve, se tornarão vitórias como a aprovação da legislação que estabelece a eliminação gradativa da queima na colheita da cana e a diminuição do ICMS do álcool hidratado – medidas que contribuíram para trazer a tranqüilidade necessária para o início da safra e para dar estabilidade ao mercado de combustíveis.
Vejo com muita satisfação essa retomada do setor sucroalcooleiro brasileiro, um setor que experimentou o inferno, com a desregulamentação atabalhoada promovida pelo Governo Federal no final da década de 90, e que ressurgiu das cinzas para voltar a figurar como a principal atividade agro-industrial do PIB paulista. Afinal, os reflexos desta retomada podem ser sentidos no campo, com a geração de empregos e renda. Que o clima ajude nossos produtores neste início de safra e os bons ventos soprem a favor, pois um futuro esplêndido está reservado para o nosso tesouro verde.
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